domingo, 28 de abril de 2013

Tudo é um recomeçar sem fim...

As incertezas dessa vida são o que mais desestabilizam o ser humano, o que fazer quando a vida foge de controle? Seja um golpe dos outros ou um golpe da própria vida, é impressionante como as coisas vem tudo junto, não raro costumamos ouvir: -Estou em uma maré de azar... quando por mais difícil que pareça as coisas têm solução ainda mantemos a força, mas e quando não depende de nós?
Minha mãe conheceu meu pai e na época ele estava se divorciando, tinha cinco filhos, minha mãe de família polonesa e meu pai negro, nem preciso mencionar o que ela enfrentou por causa disso... ela tinha recém chegado na cidade, e já conheceu meu pai, ele sempre galanteador mostrou todos os papéis do divórcio e apresentou os filhos, passado um tempo ela engravidou de mim, 1 ano e 7 meses depois nascia minha irmã, minha mãe adoeceu e a essa altura meu pai começou a dar sinais de sumiço, ele vendia terras na região e após minha mãe fazer um curso de manicure e cabeleireira e montar um salãozinho nos fundos de casa, ele passou a se mostrar outra pessoa. Minha mãe adoeceu uma vizinha ficou comigo e minha vó que morava em uma cidade vizinha ficou com minha irmã, e então começou nosso destino mudar minha vó não aceitou devolver minha irmã e meu pai concedeu ela ficar com minha vó. O que minha mãe fez? Lutou contra TODA família e perdeu, nessa época ela estava gravida novamente, sem dinheiro, sem saúde e sem apoio... Foi nessa gravidez que ela descobriu que meu pai estava mobiliando uma casa para outra mulher que estava grávida dele a cerca de 1 km da nossa casa, e o castelo de cartas se desfez, ela descobriu durante a última gestação que meu pai tinha outra família além da mulher grávida que era nossa vizinha e essa mulher tinha dois filhos um deles apenas dois meses mais novo que eu, e também a na mesma época ele tivera um caso com outra mulher e tinha mais um filho, realmente não consigo imaginar o choque de uma mulher grávida com um filho descobrir isso quase que ao mesmo tempo... Pois bem no dia do parto, minha mãe atendeu a última cliente as 9:30 hs, sentiu-se fadigada e foi para o hospital de taxi me deixando com a vizinha, as 10:30 minha irmã nasceu e na época a alta hospitalar era dada no outro dia em caso de PN, sem dinheiro minha mãe voltou embora de lotação, meu pai apareceu 3 dias depois e a xingou...A médica que fez o parto da minha mãe fez algo de errado e ela adquiriu uma hemorragia violenta e mais uma vez minha vó interveio junto com meu pai e ficou com essa minha irmã... Cansei de ver minha mãe trabalhando doente, ela pesava 41 kg, os flashes da hemorragia ainda tenho em minha memória, ela ficava com as pernas toda ensanguentadas, se desse na rua, os sapatos enchiam de sangue...
Minha infância foi tranquila, apesar de não recebermos um centavo do meu pai, minha mãe escondia esses detalhes, esses defeitos... tentaram se relacionar alguns anos ainda, juro que não entendo porque, pois minha mãe trabalhava dia e noite pelo nosso sustento, meu pai sempre foi extremamente carinhoso comigo, nunca me bateu, e a ajuda que ele dava era nas datas comemorativas pois nunca deixou nenhuma passar em branco... Eu lembro da minha mãe chorando durante as conversas com ele, lembro de vê-la pálida, magra trabalhando muito e cobrando uma miséria para atrair a clientela, então ela deu um basta quando eu tinha uns dez anos, lembro do medo que passei quando eu tinha uns doze anos e ela foi encaminhada para um oncologista com suspeita de câncer na garganta já que fazia tão pouco que meu avô morreu da mesma doença e pior ainda quando ela precisou retirar um rim e sofreu uma parada cardíaca, fomos só nós duas sempre... Ela me ensinou a me virar muito cedo, aprendi a cozinhar precocemente, a ir para o centro da cidade comprar os cosméticos que ela precisava, ir ao banco com oito anos (mas nem em sonho deixo os meus filhos fazerem 1/12 do que eu fazia, certo que os tempos são outros rsrsrsr), eramos uma dupla, uma casa sem homem, aprendi a instalar chuveiro, pregar, colar... dormíamos juntas...
Com 16 anos quis minha mãe namorar com meu padrasto, eles se conheciam desde criança, o pai do meu padrasto foi professor de primeira série da minha mãe, enfim meu pai descobriu e me ajudou a fazer um inferno na vida dos dois, além do ciume que senti da minha mãe, meu pai como sempre foi um homem metido a macho, falava que se meu padrasto falasse um "A" pra mim, que eu ligasse imediatamente pra ele... Demorou uns 2 anos para que eu me conformasse com a situação, hoje meu padrasto é padrinho do meu filho mais velho, estão juntos há 15 anos, mas passa longe de um pai pra mim, adoro ele mas como um agregado da nossa família.
Pois bem, há cerca de 3 meses atrás fiz uma terapia que dizia a respeito do meu pai, eu nunca tive mágoa dele mas gostaria sim que as coisas fossem diferentes, essa terapia me fez enxergar que se as coisas fossem diferentes, se meu pai fosse monogâmico, talvez eu não estaria aqui hoje, e que sim eu tenho ótimas lembranças com ele, e o admiro além de tudo, foi o exemplo dele que ao perseguir um sonho de se formar no curso de Direito com 72 anos que alimentou  a minha vontade de fazer o que eu sempre quis.
Mais uma vez o destino foi caprichoso e duas semanas após a formatura dele, 1 mês após eu ter feito essa terapia descobrimos um câncer com metástase, fez a cirurgia e duas semanas depois voltou a refazer a cirurgia, quando criei coragem de visita-lo na UTI, tive um choque... não parecia meu pai, parecia um homem fragilizado, vulnerável... e como uma garra sem igual, ele está reagindo, pararam de funcionar os rins e voltaram, pegou uma pneumonia e curou e agora está voltando a falar...
As pessoas satirizam, perguntam em tom irônico... minha mãe chegou e me perguntou: -Michele como está seu pai? eu respondi que estava melhorando e ela me disse:- não permita que ninguém fale o que não sabe, vou te falar antes que chegue aos seus ouvidos, a fulana me falou que seu pai está pagando por tudo o que fez e eu respondi, o que ele fez pra você? que eu saiba a única aqui que poderia reclamar de alguma coisa sou eu e eu peço a Deus que ele melhore logo... então filha não se preocupe, têm muita gente que torce pra ele se recuperar...
Como sempre mesmo achando que minha mãe não tem boca pra nada, que aceita tudo, as palavras dela me confortam. Estou tão cheia de problemas mas oro a Deus com força para que meu velho saia dessa... Mesmo sendo criada só pela minha mãe, de ver nela um exemplo ímpar de mãe solteira, amo muito meu pai, pelo fato de ter sido sempre tão carinhoso ao me tratar, por termos personalidade, modo de falar iguaizinhos... Isso me machuca, não posso fazer nada.   

3 comentários:

  1. Pois é, Mi...o câncer é uma doença maldita.
    Eu fico na torcida para que seu pai melhore!!!
    E deixa que o povo fale, porque pra falar basta ter boca.

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  2. Você como sempre maravilhosa nas palavras! Que seu pai saia dessa cheia de saude! beijao!

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  3. Que história Mi. Deus abençoe o seu pai. Bjus.

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